Biodiversidade
Biodiversidade
A biodiversidade está essencialmente em todos os lugares,
omnipresente na superfície da Terra. Foram identificadas 1,4 milhões de
espécies e estima-se que possam existir mais de 30 milhões (Wilson, 1998). Nada
no planeta Terra é tão complexo dinâmico e variado como a camada de vida ou tem experimentado
mudanças tão dramáticas (Millennium Ecosystems Assessment, 2005).
Quando se fala de biodiversidade, fala-se de muitas das suas
dimensões, tais como a sua definição, medição e avaliação. Cada uma destas dimensões
tem significados múltiplos dependendo de quem o faz, como o faz e com que
propósito.
A biodiversidade é definida
como a variabilidade entre os organismos vivos de todas as fontes, incluindo,
entre outros, os ecossistemas terrestres e aquáticos e os complexos ecológicos
dos quais fazem parte; isso inclui a diversidade dentro das espécies, entre
espécies e ecossistemas e como estas dimensões variam no espaço e no tempo. Apenas
uma avaliação multidimensional pode fornecer informações sobre a relação entre
mudanças na biodiversidade e mudanças no funcionamento do ecossistema e dos serviços
ecossistémicos. (Millennium Ecosystems Assessment, 2005).
A medição da biodiversidade
incluiu a riqueza de espécies e diversos
indicadores. Apesar de muitas ferramentas e fontes de dados, a biodiversidade
continua a ser difícil de quantificar com precisão. Apesar desta dificuldade existe
uma compreensão efetiva de onde a biodiversidade está, como está mudando ao
longo do espaço e do tempo, os responsáveis por essa mudança, as consequências
de tal mudança para os serviços dos ecossistemas e o bem-estar humano.
(Millennium Ecosystems Assessment, 2005).
Serviços fornecidos pelos ecossistemas
A avaliação
de biodiversidade é entendida de
forma diversa consoante o grupo profissional ou social que o interpreta. Para
os ecólogos das comunidades os ecossistemas são tanto mais estáveis quanto
maior a diversidade no sistema. Para
os taxionomistas o importante é medir o números de espécies. Para os
conservacionistas o importante é o belo e o raro já que raro está associado ao
conceito económico de “bem escasso” importante para definição do grau de
vulnerabilidade da espécie a processos de extinção. Esta avaliação pode ser exclusiva se visar a definição de áreas com estatuto especial para
conservação da biodiversidade ou inclusiva
se pretender a obtenção de medidas escalonadas, de valor e comparáveis, por
forma a auxiliar processos de decisão em matéria de ambiente e ordenamento do
território. (Araújo, 1998)
As
alterações na biodiversidade
O conhecimento dos padrões de biodiversidade ao longo do tempo
permite apenas estimativas muito aproximadas das taxas de extinção de fundo ou
de quão rápidas as espécies se tornaram extintas ao longo do tempo geológico.
(Millennium Ecosystems Assessment, 2005). A percentagem de espécies tende a
manter-se constante e apenas foram alteradas nos últimos 250 milhões de anos
por grandes episódios de extinção que, estima-se, possam ter ocorrido em
intervalos de 26 milhões de anos. (Wilson,
1998).
Com exceção dos últimos 1000 anos, a biodiversidade global foi
relativamente constante sobre a maior parte da história humana (Millennium
Ecosystems Assessment, 2005), no entanto, a atual redução da diversidade parece
destinada a aproximar-se das grandes catástrofes naturais no final das eras do
Paleózoico e do Mesozóico - ou seja, a mais extrema nos últimos 65 milhões de
anos (Wilson, 1998). A ação do homem levou a uma
taxa de extinção de espécies (antropogênica) estimada em 1000 vezes o ritmo de
extinção “natural” da história de longo prazo da Terra (Millennium Ecosystem
Assessment, 2005). Esta diminuição afeta o bem-estar humano nas suas diversas
dimensões, o que será sentido, principalmente pela populações mais pobres
através da diminuição de alimento disponível e de fonte de matérias primas para
medicamentos (A Economia dos ecossistemas e da biodiversidade – TEEB, 2008
versão PT).
A
biodiversidade e as mudanças climáticas
A
relação entre estes dois conceitos é mútua e recíproca. As alterações no clima
levam a alterações na biodiversidade e a diminuição da biodiversidade
influencia o clima. Um pequeno aumento na temperatura na superfície do mar e
níveis de carbono levou a perdas na biodiversidade nas florestas e alterações
no funcionamento de ecossistemas importantes como os corais.
As
perdas de biodiversidade também podem contribuir para a mudança do clima de
maneiras complexas. As mudanças de padrão no uso do solo podem desencadear
maior libertação de carbono na atmosfera aumentado a concentração deste gás com
efeito de estufa. Nomeadamente através da drenagem das turfeiras e da
desflorestação para o cultivo intensivo e construção de infraestruturas. (A Economia dos ecossistemas e da biodiversidade
– TEEB, 2008 versão PT).
A
biodiversidade urbana reveste-se de enorme importância
numa altura em que 54%
da população mundial vive em áreas urbanas, uma proporção que se espera venha a
aumentar para 66% em 2050 (Centro Regional de Informação das Nações Unidas). Os
ecossistemas providenciam uma série de contributos para o bem-estar humano e a
biodiversidade urbana não é exceção. A diversidade urbana garante os serviços
de fornecimento de recursos, (p.e. através da purificação da água da chuva) de
regulação, (p.e. regula o clima já que retém carbono, previne cheias e minimiza
os efeitos das alterações do clima através do controlo de pragas) e cultural, (p.e.
permite o contacto com a natureza).
Parque da Cidade do Porto
Fontes hidrotermais marinhas de profundidade – Açores
Fontes hidrotermais - Açores
As fontes hidrotermais dos Açores estão localizadas Dorsal
Medio-Atlântica na junção de três placas continentais – Euroasiática, Africana
e Americana. Este ecossistema é constituído por 3 campos hidrotermais de
profundidade: Campo Hidrotermal Menez
Gwen, 868 metros de profundidade, Campo Hidrotermal Lucky
Strike, 1693 metros de profundidade, e Campo Hidrotermal Rainbow a
2318 metros de profundidade. Os
dois primeiros estão situados na Zona Económica Exclusiva de Portugal.
Nos locais de formação da nova crosta oceânica surgem fissuras
onde ocorre a infiltração da água do mar. Por correntes de convecção esta água
ascende à superfície cheia de metais pesados, cobre, zinco, ferro, enxofre,
dióxido e carbono, metano. Estes locais são caracterizados por elevadas
temperaturas, toxicidade e acidez.
Em profundidade existe pouca biodiversidade o que não acontece nas
fontes hidrotermais, em contraste com o resto do fundo oceânico estes locais
são extraordinários em termos de biomassa, distribuição e composição(1) e são agora reconhecidos por interagir
com os ecossistemas circundantes no fundo do mar, com a coluna de água e por
afetar os ciclos geoquímicos globais.(2)
Aqui desenvolvem-se organismos – extremófilos – como
arqueobactérias e bactérias que vão ser a base da cadeia trófica. Estas
bactérias produzem a matéria orgânica através da energia química e dióxido de
carbono provenientes dos fluídos hidrotermais e dióxido de carbono proveniente
da água do mar. Nestes locais está identificada uma espécie endémica de
mexilhões Bathymodiolus azoricus.
As zonas com atividade hidrotermal albergam biomassas abundantes
(por vezes superiores a 20 kg/m2) e uma biodiversidade caracterizada por uma
elevada taxa de endemismos possuindo muitas dessas espécies crescimento rápido.
Uma vez que as comunidades que habitam as fontes hidrotermais se encontram
adaptadas a condições extremas químicas, físicas e de pressão, considera-se que
as espécies aí existentes são particularmente promissoras do ponto de vista biotecnológico
e existe um elevado potencial para exploração mineral.
Muitos serviços ecossistémicos estão associados a estes locais
como o ciclo e captação de carbono, produção haliêutica e uma série de serviços
comerciais e culturais.
Apesar de a sua conservação não estar
em perigo, estes locais foram incluídos no Parque Marinho dos Açores e são
considerados reserva natural marinha e área marinha protegida pelo Decreto
Legislativo Regional nº13/2016/A que reviu o Decreto Legislativo Regional nº28/2011/A,
de 11 de novembro.
Bibliografia
- A Economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB (2008)
- Wilson, E.O. (1988) "The current state
of biological diversity" In Biodiversity. Recurso
- Millennium Ecosystems Assessment (2005)
- Araújo, M. (1998) "Avaliação da
biodiversidade em conservação"
(1) A review of the distribution of hydrothermal vent
communities along the northern Mid-Atlantic Ridge: Dispersal vs. environmental
controls Available from: https://www.researchgate.net/publication/235408349_A_review_of_the_distribution_of_hydrothermal_vent_communities_along_the_northern_Mid-Atlantic_Ridge_Dispersal_vs_environmental_controls
(consultado em 25 de outubro, 2017)
(2) Levin Lisa A. et al, Les
Hydrothermal Vents and Methane Seeps: Rethinking the Sphere of Influence JOURNAL: Frontiers in Marine Science VOLUME=3 YEAR=2016 em:
https://www.frontiersin.org/article/10.3389/fmars.2016.00072
(consultado em 25 de outubro, 2017)
- http://www.horta.uac.pt/intradop/index.php/80-notas/notas/2456-missao-cientifica-as-fontes-hidrotermais-dos-acores (consultado em 28/10/2017)
- http://www.unric.org/pt (consultado em 28/10/2017)
https://www.sciencedaily.com/images/2010/10/101007114511_1_900x600.jpg (consultado em 28/10/2017)
- http://estaticos.guiadacidade.pt/foto2/data/media/4/2009-07-08_10-58-41_0088_resize.JPG
(consultado em 28/10/2017)
(consultado em 28/10/2017)
Isabel Campos
ResponderEliminarMuito interessante a sua reflexão sobre as fontes hidrotermais dos açores. Foi muito útil conhecer a sua biodiversidade e a interação com os ecossistemas circundantes. Estamos todos de parabéns pela protecção que lhes foi concedida pelo governo regional em prol da sua conservação. (não se conseguirá uma excepção para os mexilhões? 😊).
Cumprimentos,
João Alves
Comentário interessante. Foca os principais conceitos em estudo (embora a ligação entre eles pudesse ser mais efetiva ... por exemplo, no contexto do seu texto talvez não faça muito sentido referir a biodiversidade urbana ;-) ... e de facto depois particulariza para a riqueza da biodiversidade natural dos Açores e para as fontes hidrotermais (biodiversidade, valores). A melhor no futuro: uniformizar a referênciação bibliográfica: (i) ao longo do texto deve usar (autor, ano) ... ou (1) , (2) ... mas não deve usar ambos os tipos de referenciação; (ii) uniformizar também a lista bibliográfica, de acordo com um das normas em vigor; ex.
ResponderEliminarpara artigo: Apelido(s), Nome . (Ano). Título de artigo, revista científica, volume da revista, páginas, (http ou Doi)
para capítulo de livro:
Apelido(s), Nome . (Ano). Título da parte ou do volume. In Autor (forma directa do nome),
Título do livro (pp.). Local de publicação: Nome de editor.
iremos dispnibilizar essa informação na plataforma.
completas.
Muito interessante saber desta diversidade e riqueza biológica do nosso país (e também geológica, os riftes sempre foram formações geológicas que muito me aliciaram pelo seu misticismo talvez, por serem um local de início, de formação, mas também um fim, pelas condições extremas que neles existem e à sua volta). Ainda melhor saber que, apesar de a sua conservação não estar presentemente em risco, estes locais foram incluídos como reserva natural e por isso se encontram protegidos para qualquer eventualidade. Mas na verdade, não deveria ser sempre assim? Ainda não tenho muito conhecimento, por isso por enquanto só posso afirmar que sim.
ResponderEliminarOlá Maria e João!
ResponderEliminarDe facto a RA dos Açores tem desenvolvido diversos esforços/iniciativas para a promoção da sustentabilidade dos ecossistemas. Cerca de 30 locais estão abrangidos pela Rede Natura 2000 distribuídos por sítios de interesse comunitário, zonas de especial conservação e zonas de proteção especial; existe o Geoparque dos Açores onde estão incluídos diversos geossítios de interesse; das zonas húmidas existentes na região 13 estão definidas como sítios RAMSAR; existem na região quatro Reservas da Biosfera; criação uma Rede Regional de Áreas Protegidas; existências de diversos centros interpretativos; parceria entre os Parques Naturais, entidade responsável pela gestão de todos os locais incluídos em áreas protegidas, e toda a comunidade educativa com a realização de diversas atividades dentro e fora das escolas.
No entanto, na dicotomia ambiente/economia muitas vezes não é o ambiente que sai a ganhar. Os principais problemas são essencialmente o incentivo à monocultura de pastagem, utilização de adubos que muito contribui para a poluição dos recursos hídricos nomeadamente a eutrofização de lagoas, a pressão turística e o pouco controlo na exploração de recursos marinhos.
Esperamos que a aposta na educação e divulgação ambiental e científica junto de todos os cidadãos traga dividendos.
Cumprimentos,
Isabel